O que caracteriza um agrupamento de animais como uma sociedade é que:
O grupo é constituído por um determinado conjunto de indivíduos de uma só espécie animal Há uma nítida atração entre os membros do grupo com uma associação longa Os membros do grupo comunicam-se entre si Há um alto nível de cooperação entre os membros. Divisão de trabalho, reconhecimento individual A atividade dos membros é freqüentemente sincronizada - especialmente durante a alimentação, descanso, deslocamento e acasalamento O comportamento de apego é uma classe do comportamento social que visa a manutenção e restabelecimento da proximidade entre o filhote e sua mãe.
Tal comportamento pode ser observado:
- Sempre que o filhote perceber a ausência ou distanciamento visual, auditivo, tátil ou olfativo da mãe.
- Quando ocorrer um evento (eventos associados a perigo, ambientes desconhecidos, presença eminente de predadores) que desencadeie o comportamento( vocalização e movimentação característica).
- Quando a mãe busca manter o filhote próximo impedindo seu afastamento.
O comportamento de apego em termos evolutivos está associado a proteção contra predadores e por isso aumentar a probalidade de sobrevivência e de sucesso reprodutivo do filhote. Também está associado a obtenção de alimento e calor além de oferecer ao filhote a possibilidade de aprender com a mãe ou com as figuras associadas a cuidados maternos. Após um período que varia segundo a espécie, este sistema comportamental sofre mudanças e passa a ser ativado com menos facilidade. O filhote passa a explorar seu ambiente e aumenta suas atividades lúdicas. A mãe que inicialmente restringia o afastamento do filhote passa a rejeitá-lo e afastá-lo, desencorajando a proximidade excessiva. O comportamento de apego não desaparece totalmente na vida adulta de muitos mamíferos, ocorre uma mudança das figuras para com quem o comportamento de apego é dirigido e desse modo a forma como o vínculo com a mãe desenvolveu-se, pode desempenhar um papel importante na determinação dos padrões de relações sociais entre animais adultos. A proteção contra predadores parece ser a principal função do comportamento de apego entre animais sociais. Ao primeiro sinal de alarme a presa procura reunir-se ao agrupamento, diminuindo a probabilidade de ser atacado, uma vez que os predadores procuram suas presas entre os animais isolados. O comportamento é facilmente eliciado na presença de sinais de alarme, quando se pressente ou suspeita da presença de predadores, especialmente entre os filhotes, fêmeas gravidas e animais doentes.
O Homem e o cão pertencem a grupos sociais diferentes mas sua associação mostrou-se vantajosa para ambas as espécies. Por outro lado o cão fica a mercê do controle e seleção feita pelo homem.
Segundo dados arqueológicos a domesticação do cão teria ocorrido há aproximadamente 14.000 anos quando o lobo foi trazido para dentro da estrutura social humana. Para tanto o processo de amansamento já estaria ocorrendo desde o momento que agrupamentos de lobos passaram, graças a facilidade na obtenção de alimentos, a habitar próximos aos assentamentos humanos. Esses grupos tornaram-se isolados reprodutivamente da população mais selvagem dando início ao processo que levaria a linhagem dos cães. Segundo Hemmer (1990) a principal mudança ocorrida seria a sua "percepção de mundo". Isto significa que enquanto uma alta sensibilidade e estado de alerta combinado com reações rápidas ao estresse seriam necessárias para a sobrevivência do animal no estado selvagem, características opostas de docilidade, diminuição do medo, e tolerância ao estresse são os requisitos da domesticação. Para que isto fosse possível mudanças estruturais deveriam ocorrer. Entre outras, mudanças hormonais, redução no tamanho do cérebro, diminuição da acuidade e sensibilidade da audição e visão e retenção das características e comportamentos juvenis na vida adulta.
Ao observarmos a interação entre o Homem e o cão doméstico poderemos identificar um padrão nesta relação que se assemelha ao comportamento de apego. Por um lado o comportamento maternal por parte do proprietário e do outro o comportamento do cão. Ao adquirir um cão com idade entre 5 e 7 semanas de idade, o proprietário estará participando do processo de desenvolvimento do apego e do período de sociabilização canino que se estende até as 16 semanas de idade. Nesta fase o comportamento de apego está em transição, a cadela diminui a intensidade de monitoração do filhote desencorajando a proximidade excessiva enquanto o filhote, por sua vez, passa a explorar o seu meio ambiente e inicia as relações com seus irmãos na ninhada. A forma como o proprietário se relacionar com o cão irá contribuir no estabelecimento do padrão do comportamento de apego entre ele e seu cão.
O comportamento de apego deve ser diferenciado do termo dependência. O termo dependência refere-se ao grau em que um indivíduo se apóia e confia em outro para a sua existência. O termo dependência tem um cunho depreciativo contrário ao comportamento de apego que está associado a relações de caráter social, um fator de coesão do grupo. Chamar a relação entre o Homem e um cão de comportamento afiliativo (termo sob o qual se classificam todas as manifestações de amizade e boa-vontade, de desejo de fazer coisas na companhia de outros) parece não ser adequado devido ao seu caráter abrangente e indiferenciado, enquanto o comportamento de apego contem em sua manifestação a possibilidade da variação no padrão como as relações individuais ocorrem.
O comportamento de apego, como uma classe do comportamento social, possibilitou a domesticação do cão animal silvestre até a sua condição de animal de companhia, A observação de caracteres juvenis característicos em filhotes de canídeos selvagens ocorrerem em cães domésticos adultos conseqüente da seleção destes caracteres ao longo da filogênese do cão (neotínea).
Porque ser social?
- Vantagens proteção contra predadores
- eficiência na alimentação
- eficiência na reprodução
- criação da prole
- altruísmo
- divisão de tarefas
- evolução cultural
- Desvantagem
- competição entre os indivíduos;
- doenças.
Para entender-se o comportamento social de qualquer espécie animal é importante estudar:
- Como ocorre a formação de laços e vínculos;
- Quais são as características do comportamento agonístico;
- A interação social através da limpeza social - grooming;
- Como ocorrem as relações de dominância e subdominância;
- Como se da a organização, a cooperação e o altruísmo;
- Quais são as atividades sincronizadas;
- Comunicação;
- Comportamento ritualizados.
Tabela 1 Comportamento Social de canídeos selvagens
Tipo I: formação temporária de pares entre machos e fêmeas durante a estação de cruza. O macho geralmente fica com a fêmea, assiste ao parto, traz comida e protege o ninho.
Tipo II: Pares permanentes, os jovens ficam com os pais até a próxima estação reprodutiva. Se houver comida suficiente eles podem permanecer em grupos familiares e auxiliar na criação de futuros filhotes, mas o mais comum é que eles se dispersem e formem seu próprio território.
Tipo III: Nesse tipo há formação de matilhas geralmente de animais aparentados. Normalmente somente uma fêmea e um macho cruzam. O restante dos integrantes tem comportamento altruístico, além de caçar em grupo. Fox (1978).
Tabela de Períodos de Desenvolvimento Canino
Período | Início | Comportamento |
Neonatal | Nascimento -14 dias | Dorme 90% do tempo, rasteja, mama, procura contato corpóreo, endireitamento, estimulação anal necessária. |
Transição | 15 - 21 dias (até 3 semanas) | Olhos abertos, primeiros dentes, apoio sobre as 4 patas, primeiros passos. Lambe líquidos, defeca sozinho, mama de pé ou sentado. |
Socialização I | 3 - 4 semanas | Ouve, enxerga, olfato se aprimora. Ingestão de alimentos sólidos. Abana cauda, brinca, morde irmãos. |
Socialização II | 5 - 7 semanas | Mímica facial, curiosidade, exploração, atividades grupais e jogos sexuais. Início do estabelecimento da ordem de dominância. |
Socialização III | 7 - 8 semanas | Desenvolvimento pleno da capacidade auditiva e visual. Investiga tudo. Medo de ruídos súbitos, fortes, objetos em movimento. Cautela em relação aos objetos, animais e pessoas estranhas. |
Socialização IV | 9 - 12 semanas | Desenvolvimento de comportamentos nítidos de dominância e subordinação. Aprendizagem de Habilidades motoras. Atenção curta. |
Juvenil | 3 - 6 meses | Retraimento. Brincadeiras com vocalização. |
Adolescente | 6 meses | Início da puberdade. |
Fonte: Dr. Mauro Lantzman - Médico Veterinário - Homeopata e Etólogo - São Paulo - SP - Saúde Animal - Cães.
Este artigo foi publicado originalmente no site do Dr. Mauro Lantzman
Todas as fotos são dos nossos cães.
Todas as fotos são dos nossos cães.
Bibliografia:
FUCHS, H.; WATANABE, O.M. I Curso de Comportamento Animal. 1997.
LOMBARD-PLATET, VLV; WATANABE, OM; CASSETARI, L. Psicologia Experimental.
Manual teórico e prático de analise do comportamento. São Paulo:Edicon,1998.
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OVERRAL, K.L. Clinical Behavioral Medicine for small animals. Missouri: Mosby, 1997.
FOX M.W. Behaviour of Wolves, Dogs and related canids. New York: Harper & Row Publishers, 1971
O'FARRELL, V. Manual of canine behaviour. 2 ed. – Cheltenham: BSAVA, 1992.132 p.
BOWLBY, J. Apego. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1990
SERPEL, J.: The domestic dog: its evolution, behaviour and interaction with people. 2 ed. – Cambridge: Cambridge University Press, 1997. 240 p.
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